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Belgas residentes no Brasil em 1920
Documentos revelam perfil da comunidade belga
Uma lista inédita, elaborada pelo diplomata belga E. Robyns de Schneidauer, enviado extraordinário e ministro plenipotenciário, revela detalhes sobre os cidadãos belgas residentes no Brasil em 1920. O registro foi feito por ocasião da visita dos reis da Bélgica ao país, entre setembro e outubro daquele ano, e enviado ao então ministro das Relações Exteriores em Bruxelas, Hymans.
No documento, preservado no Arquivo Real, em Bruxelas, o diplomata aponta a existência de 359 nomes, embora admitisse tratar-se de uma subestimação. Ele estimou que cerca de mil belgas viviam no Brasil na época.
Durante pesquisa realizada em setembro de 2023, a lista foi fotografada, e depois digitalizada e convertida para planilha, revelando um total real de 355 nomes, sendo que 25 aparecem duplicados. Também foi identificado que 24 pessoas estavam temporariamente fora do país – 22 na Europa, uma na América do Norte e outra em Buenos Aires. Os dados cadastrados são na maioria dos casos, o nome e sobrenome, profissão e endereço da moradia ou trabalho.
Onde viviam os belgas
A maior concentração estava no Rio de Janeiro (219), seguida por São Paulo (86), Santos (12) e Minas Gerais (19).
Na realidade o documento contém diferente listas divididas por categorias profissionais:
- Diretores e empregados de bancos – 11 nomes
- Comércio – 76 nomes
- Bancos e comércio – 37 nomes
- Indústrias – 8 nomes
- Padres e religiosos – 65 nomes
No total, estas categorias somam 197 pessoas. Para 10 menores de idade consta o nome do pai e para 16 mulheres, o sobrenome do marido e para cinco outras, a menção “Vve” que significa viúva. As demais pessoas constam sem identificação profissional.
Forte presença religiosa
Quase um terço da comunidade belga no Brasil era composta por religiosos. Especialistas atribuem esse número elevado ao caráter profundamente católico da Bélgica rural do século XIX e às políticas do Vaticano, que incentivaram missões para reforçar a influência da Igreja na América Latina.
Mais da metade dos religiosos listados eram da ordem Premonstratense. Em 1920, 21 deles atuavam no Colégio São Vicente de Paulo, em Petrópolis (RJ); oito no Ateneu de Jaú (SP) e sete no seminário de Pirapora (SP). As irmãs Andrelinas, vindas da Bélgica, fundaram em 1913 o Colégio Santo André, em Jaboticabal (SP), onde 11 religiosas trabalhavam na época.
Profissões e empresas
Os setores bancário e industrial eram destaque. O Banco Italo-Belge empregava 11 cidadãos belgas, oito deles na sede da Rua da Quitanda (RJ), dois em São Paulo e um em Santos. Já a fábrica de tecidos Casa Bare, Delcroix & Co., na Rua Conde de Bonfim (RJ), tinha 13 empregados belgas.
Entre as profissões mais registradas estão: funcionário (27), diretor (26), comerciante (18), engenheiro (9), professor (7), vidreiro (5) e arquiteto (4) – sendo três destes últimos envolvidos na construção da Bolsa de Café, em Santos (SP).
Velhos conhecidos
A seção “Belgas no Brasil” do site do Patrimônio belga no Brasil contém informações sobre diferentes pessoas mencionadas no documento.
Foram criadas páginas sobre os seguintes compatriotas e à algumas destas podem ser acrescentada novas informações.
- Burlandy, Paul – não sabemos a razão por que o nome da sua esposa não está mencionado
- Chaineux, Ernest
- Colpaert, Alfred
- Colpaert, Florimond
- De Cooman, Madeleine ou Madre Maria Augusta
- Joncker, Ulrich - com a esposa Deville
- Lambrechts, Frans Louis ou Dom Alderico
- Moreau, Padre
- Mosbeux, Jules
- Peeters, Elisabeth ou Madre Francisca
- Renotte, Marie – no endereço: Rua Santo Antônio 99 São Paulo
- Schombloo[d], Philibert
- Solheid, Alphonse
- Straunard, René
- Tobias, Emile
- Van Acker, Léon – era casado e viveu no Rio em 1920
- Van Cauter, Colette ou irmã Lambertine
- Van Emelen, Jacques ou Dom Amaro
- Van Tonghel [Jan]
- Van Varenberg d'Egmont, Florimond – não sabemos a razão por que o nome da sua filha Marie não está mencionado
- Vandermeulen, Louis
- Verdussen, Jules - em 1920 ele viveu na Ilha do Governador
- Withofs, Godefroid
De outro lado é surpreende que os nomes dos ilustres belgas Georgine Mongruel, Raphael Hardy, Arsène Puttemans, Pieter Thysen e Gustave Vauthier não foram mencionados.