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Van Daele Charles Louis

Sobrenome: 
Van Daele
Sobrenome alternativo: 

Existem diversas variações desse sobrenome : Vandalle, Van Dall, Vandalen, Vandahl, Wan Dall, Wan-Dall, Wandalle, Wandalen, e muitas outras. O original é Van Daele, e tem origem na Bélgica.

Nome: 
Charles Louis
Data nascimento: 
quinta-feira, 8 Janeiro, 1818
Nascido em: 
Ruiselede
BE
Resido em: 
Beernem - Sint-Joris
BE
Profissão: 
Agricultor
Travesia
Barco: 
Adèle, 30.05.1846
Idade momento do embarque: 
28
Chegou com família: 
sim
Viajou com: 

Sua esposa LAMBERT Serafina ( 09/11/1821, Wingene) com quem casou-se em 04/03/1846 na cidade de Wingene.

Baseado em informações de Gustavo Henrique de Almeida Pedroso.

N° de pessoas: 
2
Voltou para a Bélgica: 
sim
Lote Planta 1847: 
D 5

Na estatística de 1850-1851 da Colônia Itajaí-Grande, da qual na época Ilhota fez parte e que incluía também Gaspar e Blumenau, apareceu o nome de Van Daele Charles. Ele tinha uma produção de 28 barricas de açúcar, 12 alqueires de batatas, 40 alqueires de farinha, 24 alqueires de feijão, 300 alqueires de arroz, 10 mãos de milho.

  • Alqueire: 50 × 100 braços ou 110 × 220 metros ou 2,42 hectares (fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alqueire#Brasil SC)
  • A barrica de açúcar, usada em Limeira, em 1875, na área da então Colônia Brusque, no Vale do Itajaí-Mirim, Santa Catarina, tinha capacidade para 120 Kg.
Observação: 

Van Daele Charles Louis, viajou com sua esposa e seu irmão Van Daele Ivo em 1846 com o barco Adèle, de Antuérpia, Bélgica, rumo à Santa Catarina, Brasil, junto com outros migrantes belgas.

Assinou, junto com outros colonos belgas, o documento elaborado pelo diretor da Colônia, Joseph Philippe Fontaine em 1847, que comprava o recebimento dos mantimentos e alimentos necessários para subsistência dos mesmos como acordava o contrato.

Fonte Paulo Rogerio Maes, p. 62-63, menciona a cidade de residência como "Saint-Georges", que é Sint-Joris na Flandres, próximo da cidade de Ruislede onde Charles-Louis nasceu.

Uma parte da casa do diretor e do terreno que a cerca, como está indicado na planta desenhada em 17.07.1847 por agrimensor Henrique Devrecker, sob DN 5, está ocupada por Charles Van Dael, com sua mulher e o seu irmão Van Daele Ivo que não possuem por isso nem título e nem direito, mas que obtiveram o consentimento de Sr. Fontaine sob a condição e promessa da parte do sobredito Van Daele & Cia. de deixar os referidos casa e terreno tão logo que eles sejam exigidos por Van Lede ou seu procurador.

Paulo Rogerio Maes p. 60-61 + 74-75 ;+ Ficker p. 38

No dia 16 de março de 1848, Carel (sic) escreveu uma carta para seu pai Leo Van Daele, vivendo em Ruiselede, Bélgica. A carta foi publicada no jornal regional "A Gazette van Thielt" no dia 13 de agosto de 1848. Entre outros, anunciou o nascimento da sua filha Rosalia que aconteceu em 10 de outubro de 1847, e falou de seu irmão Ivo. Anunciou na carta seu plano de voltar a Bélgica em 6 até 7 anos.

(A tradução livre segue abaixo da carta)

Carel Van Daele carta 1848.03.16Carel Van Daele carta 1848.03.16Senhor Leo Van Daele, distrito de Strookot, Ruijsselede (Flandres Ocidental.)

ST-CATARINA, 16 DE MARÇO DE 1848.

Amados pais, irmãos e irmãs,

Recebemos muito bem sua carta de 26 de dezembro de 1847, na qual vemos com grande prazer que vocês ainda estão de boa saúde. Em 10 de outubro de 1847, minha esposa deu luz a uma jovem filha que foi batizada sob o nome de Rosalia, estamos profundamente tristes com a grande pobreza que você nos diz que existir em nossa paróquia e com a morte de Charles Van Daele. Espera-se que melhore com a graça de Deus, porque, para os pobres trabalhadores, deve ser terrivelmente ruim na Bélgica. Aqui é completamente diferente, porque quem quer trabalhar aqui recebe muito dinheiro.

Eu e Ivo temos tanta terra quanto podemos cultivar e ela dá frutos o ano todo. Assim que acumularmos uma quantia razoável de dinheiro, enviaremos a você a primeira oportunidade. Temos sete porcos grandes e queremos comprar uma vaca. Podemos viver com a carne dos Javalis que podemos caçar o quanto quisermos. Aqui tudo é muito barato, exceto as roupas. A religião católica está aqui como na Bélgica. Meus muito queridos pais, por favor, fazem nossos complementos aos pais e à família de Seraphina e a todos os nossos conhecidos. Se você escrever outra carta, esperamos que o pai Lambert escreverá algumas palavras. Somos saudáveis, mas o Ivo andou com as pernas doentes há muito tempo, mas agora está completamente curado.

Queridos pais, vocês não devem dar fé a tudo o que as pessoas más diriam dizer ou escrever, porque há algumas pessoas ruins que deixaram aqui e voltaram para a Bélgica e que não gostaram de nos e nos viram com raiva pelo motivo de não querermos estar com pessoas más que deveriam dizer você considera mentiras e falsidades. Todos os camaradas que saíram conosco estão indo bem e ganhando até trinta francos no mês e a vida. Estamos separados dos homens porque eles não queriam combinar e todos queriam ser donos. Nosso mestre agora é cônsul da Bélgica° e sempre cuidou bem de nós e agiu bem, sem ele não teria sido assim conosco. Ele vai nos dar cada cinquenta florestas medidas do governo que são de propriedade total para nós. Seria uma sorte que nossos pobres trabalhadores da Flandres estivessem aqui, eles ainda saberiam da fome do frio. Saudações de Ivo a Dries Danneels e diz a ele que existem muitos javalis aqui. Capturamos oito em um dia juntos.

Adeus, país, irmãos e irmãs amados. Que Deus lhes dê uma vida longa e feliz. Esperamos receber a sua carta dentro de alguns meses. Desejamos voltar à nossa Pátria com uma quantia razoável de dinheiro em seis até sete anos para ajudá-los na velhice.

Em antecipação, estamos esperando amorosamente

Seu filho afetuoso e submisso.

CAREL VAN DAELE.

Meu endereço

Charles Van Daele op de rivier Ithajahi Belgische colonie provincie St.-Catharina. (Brazilië.)

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° Não é claro a quem Charles Van Daele faz referência. Charles Sheridan foi nomeado, em maio de 1844, como representante da Bélgica na cidade Desterro, atual Florianópolis. Ele era sócio da empresa "Sheridan & Telghuys" e abusou a admissão provisória do governo imperial, que garantiu a isenção de direitos de importação para objetos pertencentes a colonos transportados por navios belgas. Sheridan havia importado grandes quantidades de mercadorias belgas, sem pagar impostos, foi condenado e depois afastado do posto de cônsul. O novo cônsul, o suíço H. Schutel, só foi nomeado em 1850.

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Saida do porto de Rio de Janeiro dia 19 de maio de 1861O jornal "Correio Mercantil e Instructivo, Político, Universal de Rio de Janeiro", informa que Carloz Luis Vandael, sua mulher e 6 filhos saíram no dia 19 de maio de 1861 do porto do Rio de Janeiro com a galera Reine du Monde, 1.051 toneladas, com destino Le Havre (França). A família Van Dale se estabeleceu em "In de Zandberg" em Wingene, a aldeia natal da esposa.

O filho Ivo nasceu em 2 de junho de 1862 em Wingene, Bélgica, prova que Charles Louis Van Daele e sua esposa moravam lá na época. 

A filha Louise (Luísa), ficou no Brasil - presumidamente com o tio Ivo van Daele. Luisa se casou no Brasil uns anos depois dos pais sair. O arquivo de Blumenau menciona que a família Van Dal, de belgas, cuidava do Hospital Santo Antônio desde 1889. Luiza Van Dal era a primeira diretora do Hospital Municipal, ainda quando dirigido pela Krankenunterstuetzungsverein.

No mês de maio de 1882 houve, na Bélgica, uma reunião com Vandaele sobre o legado de Charles Van Lede. No seu testamento, Van Lede deixou suas terras em Santa Catarina à "Commissie van Burgerlijke Godshuizen" (CBG), uma instituição civil que cuidou dos pobres da sua cidade natal, Bruges. Vandaele foi contatado porque conheceu essas propriedades no tempo que viveu em Ilhota. Charles propôs recorrer à intervenção de seu irmão Ivo Van Daele, que ainda vive na província de Santa Catarina desde 1846.

Nos informou Gustavo Henrique de Almeida Pedroso que a família voltou em 1886, no vapor Pascal, que chegou no Rio de Janeiro em 8/5/1886: 

Lista de borda Vapor Pascal 1886

A lista é um pouco confusa: Helene Vandaele, de 2 anos, é na verdade a neta de Charles Louis, filha da sua filha Nathalia Vandaele e Henri de Sutter. Seu nome é Helene-Maria-Elionora de Sutter, nascida em 8/1/1884 em Ruiselede, Bélgica. Henri De Sutter é anotado com Henry Dezutter com filhos Alidor (Alidorus), nascido em 28/7/1879 em Ruiselede e Gustavo que nasceu em 27/3/1883 em Wingene.

Em novembro de 1888, o CBG atribuiu um mandato a Charles Van Daele, vivendo em Gaspar, SC. Ele era nominado procurador das terras de Van Lede, em nome do CBG, mas sem qualquer garantia da parte do CBG e por seu próprio risco, com uma renumeração fixada em ¼ das terras vendidas e deve depositar o valor da venda na conta bancária designada por G. Reusens, embaixador da Bélgica no Rio de Janeiro.

Van Daele iniciou os trabalhos no dia 3 de julho de 1889 com a previsão de terminar no dia 15 do mesmo mês. Era sem contar com a resistência dos moradores do local. Mais de 80 pessoas de Ilhota e das circunvizinhanças, armados, agredissem o agrimensor, tomassem-lhe os instrumentos, e invadissem sua residência em Gaspar, para inutilizar todos os mapas e documentação da medição. Mais tarde Van Daele solicitou a vigilância e guarda de um destacamento militar de Desterro, que marchou para Ilhota a 10 de junho de 1889. Só assim conseguiu prosseguir com os trabalhos de medição. (Ficker, p. 91)

Na lista dos passageiros do vapor Pascal constam também outros belgas:

Em 08/01/1887, se casou em Gaspar o belga Cesar Francisco Delvaux (com Deolinda Carolina Anselma), nascido ca. 1860. Não encontramos a data da sua chegada no Brasil. Os Delvaux viveram na região Baú em Ilhota, no lado esquerdo do rio Itajaí-Açu.

O Blumenau Zeiting noticiou a morte de um Carl van Dal em 7 de setembro de 1901, de origem belga, certamente é Charles Louis. 

O seu filho Charlouis correspondeu em 26 de fevereiro de 1904 com o CBG informando que seu pai faleceu e que ele se disponho a disposição para continuar a venda das terras do falecido Charles Van Lede, herdadas pelo CBG. Charlouis era enfermeiro do Hospital em Blumenau. Sua intermediação resultou na venda do terreno "Ilhota Flores" de 4.012,18 ha., situado parcial em Itajaí e parcial em Blumenau, ao Carl Richbieter de Blumenau pelo preço de 25.000 francos em 1906.

 

Descendentes: 
  1. Rosalia, nascida em 10/10/1847, faleceu em 30/12/1872 em Ruiselede;
  2. Louis (Charlouis), nascido em 01/09/1850;
  3. Nathalia, nascida em 01/10/1851; casou-se em 31/12/1875 em Ruiselede com Henri de Sutter.
  4. Felix, nascido em 30/06/1855, faleceu em 08/02/1863 em Wingene;
  5. Melânia, nascida em 26/04/1857;
  6. Luisa, nascida em 26/02/1859;
  7. Ivo, nascido em 02/06/1862, em Wingene.

Baseado em informações de Gustavo Henrique de Almeida Pedroso.

Fonte dos nomes e sobrenomes

Encontramos grafias diferentes do nome e sobrenome dos emigrantes. Para os registros individuais das famílias neste site, usamos como principal entrada, as seguintes fontes para os imigrantes que chegaram com o barco:

  • "Jan Van Eyck" em 1844: o documento "État nominatif des colons embarqués à Bruges, à bord du Brick Belge Jean Van Eijck, en destination pour la Province de Ste Catherine du Brésil" guardado no Arquivo Municipal da cidade de Bruges, no departamento Arquivo Moderno - VIIa Sûreté Publique, 1844 
  • "Adèle" em 1846: o documento "Liste des personnes à qui il a été délivré des passeports gratuitement, en exécution de la Circulaire de Mr. l'Administrateur de la Sûreté publique en dâte du 2 Mai 1846, Cabinet, N° 45225 - Ville d'Anvers" guardado no Arquivo Nacional em Bruxelas, no setor 269 Émigration au Brésil. 1843-1888. Ministère de la Justice. Sûreté publique (ou Sûreté de l'Etat). Police des Etrangers, 1840-1994

Bibliografia

livros

  • Charles Van Lede e a colonização belga em S. Catarina / Carlos Ficker. - Blumenau, 1972.
  • Colonização Flamenga em Santa Catarina - Ilhota / Paulo Rogério Maes. - 2005.
  • Movidos pela esperança: A história centenária de Ilhota / Viviane dos Santos e Elaine Cristina de Souza. - S&T Editores, 2006.
  • La colonie belga au sein de la Sainte-Catherine du Brésil Impérial : Diplomatie, commerce et contrabande (1841 - 1847) / Natalia da Silva Pereira. - Dissertação ULB - Master en Histoire Contemporaine, 2013-2014

artigos

  • Sainte-Catherine du Brésil, Etablissement belge / Ch. Maroy no Bulletin d'études et d'informations de l'Ecole supérieure de commerce St-Ignace. Anvers, avril 1932, 31 p.
  • 3.3. Colônia belga p. 110-113 em A colonização de Santa Catarina / Walter Fernando Piazza. - Porto Alegre: Editora Pallotti, 1982.
  • Ilhota: Tempos e contratempos de uma colônia belga / Maria do Carmo Ramos Krieger Goulart p. 153-156 na revista Blumenau em cadernos 1982 – 5  (maio 1982) 
  • VII. Santa Catarina do Brasil (1842 - 1875) p. 119-137 em Dos Açores ao Zaire: Todas as colônias belgas nos seis continentes. O surgimento, a História, a comunicação / Patrick Maselis. - Roeselare: Roularta Books, 2005.
  • CHAPTER 5 - SANTA CATARINA p. 138 – 155 Early Belgian colonial efforts: The long and fateful shadow of & Leopold I / Robert Raymond Ansiaux. Presented to the Faculty of the Graduate School of The University of Texas at Arlington in Partial Fulfillment of the Requirements for the Degree of DOCTOR OF PHILOSOPHY. - THE UNIVERSITY OF TEXAS AT ARLINGTON, December 2006
  • Sainte-Cathérine du Brésil ou os belgas em Santa Catarina / Eddy Stols p. 22-26 em Brasil e Bélgica: Cinco séculos de conexões e interações. - São Paulo: Narrativa Um, 2014.
  • Ilhota, een Belgische kolonie aan de Itajahi-Grande/ Raymond Arren em Spaenhiers Jaarboek 2010.
  • Een Brugse kolonie in Brazilië: ‘Adieu, Vlaenderen en Braband. Wy gaen nae ’t luy Lekkerland…’ / Bart Demuynck p. 151-162 em Brugs Ommeland: driemaandelijks tijdschrift, 55ste jaargang, nummer 3, september 2015.