Você está aqui

Oficina Jacobs & Tomberg e Tomberg & Filho (Pelotas)

, Ixelles -
Jacobs & Tomberg Pelotas
Social Media: 

A oficina Jacobs & Tomberg fundado nos anos 1920 por imigrantes belgas atuou na produção de artefatos metálicos para edificações em Pelotas. Jean Henri Tomberg, eletricista e mecânico, nasceu em Ixelles perto de Bruxelas no dia 16 de abril de 1883, e a sua esposa, Marie Jacobs, nasceu em Uccle, também na região de Bruxelas, no dia 02 de dezembro de 1881. O casal estava inscrito na cidade de Woluwe-Saint-Pierre no dia 03 de maio de 1919.

A vinda para o Brasil teve como motivo a deflagração da Primeira Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918. João Henrique Tomberg, na cidade de Bruxelas (Bélgica), confeccionava e fazia a manutenção das coberturas metálicas dos depósitos das “gares” (estações) dos trens e bondes. Era um artífice do ferro e conhecia a arte de trabalhar os metais. João Henrique Tomberg, Marie Jacobs e o filho Gabriel Marie Henri Tomberg (3.12.1909 - Ixelles, Bélgica) saíram de Bruxelas de trem para Marseille onde embarcaram num navio para o Brasil. A viagem durou 43 dias. Desembarcaram em Santos no dia 15.12.1919 junto com 88 compatriotas. Marie Jacobs, seu irmão François e o filho Gabriel, se hospedarem na Hospedaria de São Paulo. 

O Correio Paulistano de 21 de dezembro de 1919 reportou, desde Santos, que “Na próxima segunda feira devem embarcar neste porto para a antiga colônia de Cananéia, 103 colonos, filhos do rei Alberto I, que se encontram na hospedaria de imigrantes da capital. Esses colonos seguirão acompanhados pelo sr. M. Burlandy, representante de um sindicato de colonização belga.” Entre eles João Henrique Tomberg, Marie Jacobs, o filho Gabriel Marie Henri, e François Jacobs.

Porém passaram por dificuldades, a Companhia de colonização foi logo dissolvida, e adoeceram vitimados pela malária. No final de 1920 / início de 1921, Gabriel que estava doente, voltou para a Bélgica acompanhada de uma senhora e outras duas crianças. A informação de que numa cidade ao sul do país, denominada Pelotas, o Quartel necessitava de profissionais para a confecção das estruturas metálicas necessárias aos alojamentos, foi suficiente para que os pais deixassem o trabalho em São Paulo e viessem para o sul do Brasil, dando início à firma Jacobs & Tomberg, que alguns anos após se tornaria Tomberg & Filho Ltda.

Jacobs & Tomberg

Ainda hoje, encontram-se componentes arquiteturais metálicos confeccionados por essa metalúrgica nas primeiras décadas do século XX. Estruturas metálicas para a cobertura dos alojamentos no já mencionado Quartel de Pelotas, localizado no bairro Fragata, é um dos exemplos de serviços prestados.

Os Tomberg sempre foram muito requisitados e davam assistência aos estabelecimentos comerciais, principalmente quando acontecia algum problema com as cortinas metálicas. Concorriam com outra “oficina” chamada Ernesto Giorgi, (localizada em frente a antiga Usina) na prestação de serviços ao mercado de Pelotas, em serralheria de alto padrão. As fachadas do sobrado n. 61, em frente à Praça Coronel Pedro Osório, e do Centro Comercial, no calçadão da Andrade Neves esquina com Marechal Floriano, ilustram essa disputa, pois ambas as edificações contêm cortinas metálicas e montantes, com inscrições das oficinas Jacobs & Tomberg (posteriormente, Tomberg & Filho Ltda.) e da Ernesto Giorgi.

Pelotas Tomberg & Filho Logomarca

A oficina localizava-se à Avenida Saldanha Marinho, nos números 14 e 16, e ao lado, nos números 12 e 18, residia a família Tomberg. Naquele local, enfrentaram muitas enchentes, mesmo assim confeccionavam diversos componentes para a arquitetura, tais como: estruturas, esquadrias em geral, grades, portões e gradis, colunas de fachada e cortinas metálicas, bandeiras e alguns outros. Sempre atenderam toda a sorte de projetos, residenciais, comerciais e muitos outros.

As três gerações da família Tomberg

(Em pé, Jean Henri, sentado no meio, seu neto João Henrique, ao lado direito, seu filho Gabriel)

Além dos trabalhos direcionados à arquitetura, ainda inventaram uma prensa para enfardar lãs, que comercializaram em toda a região sul e exportaram para o Uruguai. Segundo Adriane Carpena Alves, filha de Gabriel Tomberg e neta de João Henrique Tomberg, a oficina tinha caráter familiar, onde eram empregados cerca de 30 funcionários.

O material estocado ficava junto às paredes do prédio, onde havia extensas mesas de trabalho para malhar o ferro aquecido na forja. Inicialmente, o metal vinha da Siderúrgica Belgo Mineira e, depois, da Siderúrgica Nacional. Gabriel Tomberg reclamava da qualidade do produto que vinha desta última, pois acreditava que o metal era obtido pela mistura do ferro gusa com sucatas de máquinas refundidas.

Os artefatos da Jacobs & Tomberg encontrados no inventário que se fez na área central da cidade foram: cortinas metálicas, montantes e, provavelmente, as bandeiras que se encontram integradas ao conjunto. Além desses, Ana Paula identificou alguns componentes arquiteturais de residências da década de 1950 e 1970, confeccionados pela Tomberg & Filho Ltda.

Tomberg Pelotas

Espalhada pela cidade de Pelotas, o visitante atento, ainda poderia descobrir vestígios dos trabalhos de ferro dos Tomberg. São inumeráveis cortinas metálicas, portas e grades de ferro fundido e ornamentos em ferro para fachadas, dos quais alguns ainda tem a placa “Jacobs & Tomberg” ou “Tomberg & Filho”.

Tomberg & Filho persiana de aço

Tomberg & Filho persiana de aço

Fontes:

  • OS METAIS NO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO URBANO DE PELOTAS, RS – 1870 a 1931 / Ana Paula de Andrea Dametto. - Pelotas, 2009. Dissertação apresentada ao Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas
  • Arquivo do Consulado da Bélgica em São Paulo
  • Visita à casa da Janine Tomberg, 17 de março de 2018
  • site do Museu da Imigração de São Paulo

Fotos preto-branco: dissertação

Fotos coloridas: Marc Storms, março de 2018