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Ladrilhos belgas na Casa França Brasil (Rio de Janeiro)

Location: 
Rua Visconde de Itaboraí 78 , Rio de Janeiro - Rio de Janeiro
Rio de Janeiro Casa França Brasil Ladrilhos belgas
Tipologia: 

Marco da introdução do estilo neoclássico no Brasil, a antiga Alfândega, atualmente a Casa França Brasil, é o único dos prédios públicos projetados por Auguste Henri Grandjean de Montigny, que resistiu ao tempo. Atualmente é um Centro Cultural.

Montigny veio com a missão artística francesa que aportou no Brasil em 1816 e difundiu o neoclássico. A edificação é formada de duas estruturas retangulares e, sobre a intercessão das duas, foi montada uma cúpula monumental, abaixo da qual aparecem os arcos plenos e colunas que caraterizam a edificação.

Casa França Brasil Interior

O piso é revestido por grandes blocos de pedra e tapetes de ladrilhos hidráulicos. Perto das portas de entrada foi criado um retangular grande de cerca 10m50 x 2m00 com diferentes tipos de ladrilhos na borda, área interior e centro. Depois de milhares de pisadas, os ladrilhos hoje mostram um desgaste.

Casa França Brasil Porta da entrada

No centro, bem abaixo da cúpula central, encontra-se um outro conjunto de ladrilhos em forma quadrada de cerca 2m34 para 2m34, que de verdade parece um tapete.

Casa França Brasil Ladrilhos Area Central

No fim do espaço, perto das portas de saída encontra-se um outro conjunto de ladrilhos, maior que o do centro, de forma retangular de cerca 8m70 x 3m00. Este tem nos 04 cantos figuras de animais compostas de 4 por& 4 ladrilhos, representando figuras mitológicas de um leão, uma águia, um dragão e um peixe.

Casa França Brasil AguiaCasa França Brasil DragãoCasa França Brasil LeãoCasa França Brasil Peixe

Todos os ladrilhos tem a mesma dimensão de 16,7 x 16,7 cm.

Diversas fontes mencionam que esses ladrilhos são de origem belga. Maro Baeck, especialista, nós informou que é perfeitamente possível que sejam vendidos no Brasil por (um representante da) firma belga Boch Frères de La Louvière (B) e Maubeuge (Fr), mas sem dúvida são modelos fabricados pela firma "irmã" Villeroy & Boch em Mettlach na Alemanha. O que sustenta essa hipótese, segunda Baeck, é o fato de que na lista "Ausführungen von Mosaikplatten 1864-1894" onde a firma Villeroy & Boch nomeia suas realizações no mundo inteiro, as vendas ao Brasil não aparecem.

V&B 161Baeck acrescentou que os ladrilhos do "tapete" são mencionados nos catálogos de vendas da Villeroy & Boch com o número 161. Esse número indica a data da introdução dos modelos em produção e, portanto, é certo que já estava em produção antes de 1870. Considerando o fato de terem permanecido em produção por muito tempo, isso não diz nada sobre a data exata de sua exportação ou instalação. Não são ladrilhos de cimento, mas grés encausticas muito mais resistentes.

Essas informações são confirmadas no site villeroyboch que explicou que os ladrilhos são conhecidos com os "Mettlacher Platten" e que a origem de alguns desenhos está relacionada com a descoberta de mosaicos romanos na vizinhança de Mettlach.

O edifício foi construído para ser a Praça do Comércio, o que durou dois anos. Ainda hoje, no interior do prédio, existe um grande espaço em forma de cruz que pertencia à "Praça do Comércio". Ele é o mais importante vestígio, no Rio de Janeiro, da implantação do neoclássicismo, que testemunha as transformações relativas ao processo de Independência do País. Após algumas reformas, o edifício passou a abrigar a "Alfândega", o que durou até 1944. De 1951 a 1978 abrigou o II Tribunal do Júri. Desde 1983 funciona ali a Casa França-Brasil.

Os mesmos ladrilhos foram usados na Palacete 10 de Julho na cidade de Pindamonhangaba e no Museu do Doce em Pelotas (RS).

Texto e fotos: Marc Storms, junho de 2016