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Ladrilhos belgas no Palacete 10 de Julho em Pindamonhangaba

Location: 
Rua Deputado Claro Cesar 33, Pindamonhangaba - São Paulo
Palacete 10 julho ladrilhos belgas
Tipologia: 
Tombado: 
sim

Palacete 10 de Julho, na cidade paulista de Pindamonhangaba, atualmente abriga a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Ele foi a residencia do Barão de Itapeva, Ignácio Bicudo de Siqueira Salgado, e sua família até 1925, na época conhecido como "Solar de Tetequera". A partir de 1929, foi ocupado pelos poderes municipais e funcionou como sede da Prefeitura. Em 2014 começou o seu processo de restauraçao, com uma criteriosa recuperação da edificação, a preservação de suas características originais e as adaptaçoes necessatias ao novo uso.

Palacete 10 Julho

O projeto foi concebido pelo arquiteto francês radicado no Vale do Paraíba, Charles Peyronton, na segunda metade do século XIX. Quatro anos foram necessários para que a obra fosse concluída na segunda metade dos anos 1850. O prédio, com área construída de 1.180 m², ostenta luxuosos acabamentos e adornos arquitetônicos em suas fachadas e no seu interior. A edificação é composta de três seções: o térreo, o pavimento superior e o porão, que serviu de moradia dos escravos. O palacete é considerado um dos mais importantes exemplos de arquitetura residencial da nobreza cafeeira do Vale do Paraíba.

Escreve o site Vitruvius:

"A planta, com uma distribuição racional que repete a tradicional solução de implantação junto à testada da rua e o agenciamento em “L”, inova na elevação do térreo em relação à rua através da adoção do porão, destinado aos serviços. De fato, foi a primeira residência de vulto em Pindamonhangaba a adotar esta solução, depois comum na arquitetura residencial urbana brasileira do período, que, mantendo a tradição colonial de abertura de portas e janelas diretamente para a rua, preservava o interior da habitação dos inconvenientes olhares furtivos. Além do seu já citado agenciamento da planta e sua contida implantação, o edifício conserva elementos do modelo colonial como o fato de suas paredes ainda manterem a espessura necessária à velha taipa de pilão, apesar de ser construído em alvenaria de tijolos.

Ao mesmo tempo anuncia, através da profusa decoração e do uso de elementos industrializados, o desejo pelo que havia de mais moderno em termos de materiais e soluções construtivas: grades trabalhadas de ferro fundido, colunas gregas, imponente escadaria em mármore do hall de entrada, ladrilhos hidráulicos, esquadrias em pinho de riga, forros em madeira policromados, cobertura em quatro águas revestida com telhas francesas. Destacam-se em meio a estes, o piso do hall de entrada, onde o belo ladrilho hidráulico possui padrão decorativo e a clarabóia ovalada, ricamente trabalhada em elementos decorativos em argamassa, que ilumina o salão central do pavimento superior." 

No térreo, se destacam ladrilhos hidráulicos que cobrem todo o espaço.

Palacete 10 julho Ladrilhos belgas

Nas esquinas, foram colocadas figuras de animais compostas de 16 ladrilhos em formato quadrado, representando as figuras mitológicas de um leão, uma águia, um dragão e um peixe. Outros ladrilhos criam uma perspectiva 3 D com um desenho de tapete no centro.

Palacete 10 julho Peixe Ladrilhos belgas

Foram encontrados os mesmos padrões de desenhos na Casa França Brasil e no Gabinete Real Português de Leitura, ambas no Rio de Janeiro e na residência para a família do Conselheiro Francisco Antunes Maciel, o atual Museu do Doce, em Pelotas (RS).

Diversas fontes mencionam que esses ladrilhos são de origem belga. Mario Baeck, especialista, nós informou que é perfeitamente possível que sejam vendidos no Brasil por (um representante da) firma belga Boch Frères de La Louvière (B) e Maubeuge (Fr), mas sem dúvida são modelos fabricados pela firma "irmã" Villeroy & Boch em Mettlach na Alemanha. O que sustenta essa hipótese, segunda Baeck, é o fato de que na lista "Ausführungen von Mosaikplatten 1864-1894" onde a firma Villeroy & Boch nomeia suas realizações no mundo inteiro, as vendas ao Brasil não aparecem.

V&B 161Baeck acrescentou que os ladrilhos do "tapete" são mencionados nos catálogos de vendas da Villeroy & Boch com o número 161. Esse número indica a data da introdução dos modelos em produção e, portanto, é certo que já estava em produção antes de 1870. Considerando o fato de terem permanecido em produção por muito tempo, isso não diz nada sobre a data exata de sua exportação ou instalação. Não são ladrilhos de cimento, mas grés encausticas muito mais resistentes.

Essas informações são confirmadas no site Villeroy e Boch que explicou que os ladrilhos são conhecidos com os "Mettlacher Platten" e que a origem de alguns desenhos está relacionada com a descoberta de mosaicos romanos na vizinhança de Mettlach.

O site Zement Fliessen mostra os mesmos ladrilhos 3D do palacete, sendo o n° 2 do catálogo de Villeroy & Boch em Mettlach.

Fontes:

Texto e fotos: Marc Storms