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Jansen Pierre

, Liège -
Jansen Pierre
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Pierre Jansen, belga de Liège, engenheiro formado pela École de Aviation Blériot de Buc, inventor desde os 13 anos, veio para o Brasil em busca de sol tropical. Durante a Segunda Guerra, ele foi atacado por um reumatismo gravíssimo, que chegou a deixá-lo cego durante nove dias, e foi curado graças ao fraco sol de Liège.

A procura do sol constante levou-o até a Bolívia, onde ficou perto de sete anos, como professor de inglês na Academia Militar de Aviação e no Colégio Pestalozzi. Até que chegaram os americanos, ensinando a língua quase de graça e obrigando Jansen a procurar emprego em Corumbá, e, depois, em Santos.

Foram anos muito difíceis. Ele havia abandonado a engenharia e a civilização europeia, mas pelo menos tinha o calor do sol e estava longe do cenário da guerra. Relutou antes de aceitar o emprego oferecido por um engenheiro francês, durante a construção da 1ª Coqueria da Cosipa (Liège é uma cidade industrial, onde a poluição é semelhante, ou até maior que a de Cubatão), mas acabou concordando com um contrato de dois anos.

Mas ficou muito mais do que isso. Depois de seis anos na Coqueria, passou a trabalhar em vários outros setores e a fazer traduções técnicas para a empresa. Mas entrou no corte de 30 por cento do pessoal, em 1967, sendo chamado de volta, seis anos depois, para a montagem de outra parte do setor de Coqueria. No intervalo, passou pela construção civil. Mas nunca deixou suas pesquisas e invenções.

A primeira delas, aos treze anos, foram duas asas suplementares colocadas num modelo de monoplano que estava construindo com bambu. (Na Bélgica, durante 20 anos, ele seria construtor de aviões e planadores, numa pequena fábrica, quase artesanal).

A mais importante está agora patenteada. É o Variador de Velocidade de Variação Progressiva - um dispositivo que super-multiplica as relações de transmissão. Ao invés de quatro marchas fixas, o variador possibilita uma infinidade de marchas intermediárias, fazendo com que o aumento da velocidade contínua seja feito sem as interrupções bruscas das mudanças de primeira para segunda, de segunda para terceira e assim por diante.

Tanto a Chrysler como a Ford receberam cópias de seus desenhos e se interessaram pelo aparelho, que permite o uso constante do motor no seu regime de melhor rendimento - portanto, gastando pouco combustível. "Mas as multinacionais não aceitam uma patente brasileira e também cuidam para que a tramitação do processo seja bastante longa, impedindo que a invenção seja apresentada aos concorrentes". Jansen também acha bastante dificuldade para a fabricação de protótipos de seus inventos, pois a maioria das oficinas recusa-se a fabricar peças únicas.

Atualmente, ele está trabalhando no projeto de um pequeno carro de dois lugares, com três rodas, aproveitando o motor comum de motocicleta. Mas falta-lhe espaço para uma oficina e literatura com detalhes e especificações sobre os equipamentos fabricados no Brasil (pneus e tubos de aço, por exemplo).

Pierrre Jansen já tem vários outros inventos, como a embreagem hidráulica, o variador de velocidades hidráulico, o motor de ar comprimido a rotor e a bomba rotativa dosadora a vazão regulável. É o resultado de seu trabalho nas horas vagas, que agora são muitas, pois conseguiu aposentar-se do seu serviço na Cosipa.

O inventor Jansen era um dos representantes da pequena colônia belga em Santos, uma comunidade formada por poucas pessoas, entre elas as irmãs Elizabeth e Madalena, do Colégio Stella Maris.

Fonte:

http://www.novomilenio.inf.br/... Publicado em 22/8/1982 no jornal A Tribuna de Santos