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Vilain Jean Baptiste

Sobrenome: 
Vilain
Sobrenome alternativo: 

Villain (Ficker, p. 28)

Nome: 
Jean Baptiste
Data nascimento: 
quinta-feira, 2 Setembro, 1813
Nascido em: 
Andenne
BE
Resido em: 
Dour
BE
Profissão: 
Trabalhador
Data obito: 
sábado, 12 Março, 1892
Travesia
Barco: 
Jan van Eyck - 23.08.1844
EtatNominatif: 
80
81
82
83
Idade momento do embarque: 
31
Chegou com família: 
sim
Viajou com: 

Sua esposa LESUISSE Anne Louise (27/04/1820, Jambes) com quem casou-se em 03/03/1840.
E seus filhos Josephine Anne-Maria (13/07/1842) e Guillaime-Auguste (13/03/1844) quem nasceram em Mechelen.

Baseado em informações de Gustavo Henrique de Almeida Pedroso.

N° de pessoas: 
4
Voltou para a Bélgica: 
não

Na estatística de 1850-1851 da Colônia Itajaí-Grande, da qual na época Ilhota fez parte e que incluía também Gaspar e Blumenau, apareceu o nome de Vilain Jean Baptiste, casado, 3 filhos e 3 filhas ou 8 pessoas na família. A atividade do seu estabelecimento era a elaboração de mandioca. Ele possuiu 2 vacas.

Observação: 

Vilain Jean-Baptiste, sua esposa Lesuisse Anne Louise (°27.04.1820) e seus filhos Josephine Anne-Maria e Guillaime-Auguste, viajaram, em agosto de 1844, com o barco Jan Van Eyk, de Ostende, Bélgica rumo à Santa Catarina, Brasil, junto com mais de cem outros migrantes belgas. Na Bélgica era serralheiro na ferrovia. Na lista de borda do barco Jean Van Eyck consta seu endereço sendo Dour, o que é estranho porque seus filhos nascerem em Mechelen em 1842 e 1844. 

Assinou, junto com outros colonos belgas, o documento elaborado pelo diretor da Colônia, Joseph Philippe Fontaine em 1847, que comprava o recebimento dos mantimentos e alimentos necessários para subsistência dos mesmos como acordava o contrato. (Fonte Paulo Rogerio Maes p. 60-61 + 74-75)

Seu nome é mencionado na carta que Gustave Lebon escreveu ao Sr. Lannoy, Encarregado de Negócios da Bélgica, com data 20 de dezembro de 1849. Tratando-se de ameaças realizadas por José Henrique Flôres, proprietário de terras em Itajaí, que este colono belga recebeu. Nesta carta Lebon relata:

Dice-lhe [Engelbert Ranwez] mais, que pretendiamos atacar a caza de Flores, acompanhado por João Baptista Vilains, Súdito Belga, para roubar-lhe o dinheiro que possuía, e que ainda assassinaríamos 4 ou 5 pessoas, que habitam junto ao rio.

fonte: Relatório de 1850, do Ministério dos Negócios Estrangeiros ao presidente da província do Rio de Janeiro.

O jornal "O Cruzieiro do Sul" de 12.02.1866 menciona que o delegado das terras publicas da provincia de Santa Catarina, recebeu onze requerimentos, entre outros de João Baptista Vilain, Carlos Ottecar [provavelmente o belga Charles Houttekeer] e Antônio Werner [provavelmente parente da esposa do seu filho Jacob, Anna Werner].

O arquivo de Bruges (OCMW-archief), Bélgica, guarda diferentes cartas que o filho Jacob Baptista Villain escreveu ao diretor da "Commissie van Burgerlijke Godshuizen" (CBG) entre 1904 e 1906 sobre a venda das terras do legado Charles Van Lede onde a família viveu. Seu pai, Jean Baptista, possui 3 ações e assim, tive direito ao terreno, fato negado pelo Alexandre Justino Regis que se diz dono dessas terras. Jacob pediu esclarecimentos, insistiu escrevendo outras cartas, mais nunca recebeu resposta. 

O mesmo arquivo guarda também a tradução em francês de uma carta de Maria Villain, publicada no dia 19 de outubro de 1904 no ‘Correio Do Povo. Folha da tarde. Florianópolis', número 227. Graça à ajuda da biblioteca publica de Santa Catarina, recebemos um pdf do referido jornal.

Ao público.

Para que não fique impune a perseguição que nos foi movida pelo pretenso direito do sr. Alexandre Justino Regis sobre as terras de minha propriedade e de minha mãe, sitas no lugar Ilhota, do município de Itajahy, das quais minha família estava de posse por direito de contrato com uma sociedade Belga, há 60 anos e em cujas terras resido há 32 anos, em casa edificada por nós, cultivando as mesmas terras, conservando estradas, pagando direitos durante esse tempo, venho, em razão do mesmo sr. Regis ter obtido sentença favorável perante o dr. Juiz de Direito d'esta comarca na ação de despejo de propriedade que contra nós tentou em maio do corrente ano, lavrar o presente protesto e ao mesmo tempo fazer público as tristes consequências de que temos sido vítimas, devido a tão desumano procedimento do mesmo sr. Regis, que, se não for castigado pela justiça dos homens, sê-lo-há [há de ser] pela de Deus!

Há 7 anos mais ou menos atrás, tentou o mesmo senhor igual ação de desaprovação, o que não conseguiu por não possuir documentos para provar o seu pretexto direito. Confiantes no nosso justificado direito reconhecido, continuamos a lavrar nossas terras, quando, no dia 31 de maio próximo passado, apresentaram-se na nossa pobre choupana dos meirinhos acompanhados por dois policiais, armados de sabres e espingardas, que disseram vir de ordem do dr. Juiz de Direito botar tudo na rua para desocupar as terras ou nos levarem presas!!

Respondi que essas terras e a casa eram minhas e de minha mãe, por isso não saía. Deram-nos então voz de prisão.

Não podendo acompanhar-me minha velha mãe de 84 anos de idade, por se achar doente, vim só ao dia seguinte, não vindo no mesmo dia por não poder caminhar perto de 5 ou 6 léguas a pé.

No referido dia, à 1 hora da tarde, apresentei-me na residência do dr. Juiz de Direito, que diz-me ter eu desobedecido nas ordens, mandando-me em seguida recolherem à prisão, juntamente com Manoel João Baptista Bondim, possuidor de ações da referida sociedade belga, Vincente Correia dos Santos e Leandro Maes.

Em tão triste situação, pobre viúva com 54 anos de idade, recorri a um advogado, o sr. Francisco Margarida, que, depois de apresentar algumas dificuldades, conseguiu, no fim de 3 dias de prisão, sob fiança, que me defendesse em liberdade de um único processo de desobediência a que tive de responder no dia 21 de setembro, próximo passado e em o qual fui absolvida unanimemente assim com as outras vítimas. Digo único processo, porque a consciência não me acusa de crime algum, pobre mulher não poderia resistir a quatro homens que me quisessem levar presa!

Devido a tão injusta perseguição e atemorizada por tão atroz injustiça, minha velha mãe, que, apesar dos seus 84 anos ainda conservava todo o seu juízo e dava-se ainda a trabalhos domésticos, tem dado continuas mostras de enfraquecimento cerebral e tem igualmente perdido à boa saúde que até então gozava; meu irmão João Baptista Villain, pai de 5 filhos menores, andando já adoentado não pôde resistir às nossas infelicidades e veio a falecer no dia 5 de setembro.

O infeliz Manoel João Baptista Bondim, pai de 8 filhos menores e aterrorizado também pelo processo que tinha de responder, enlouqueceu e já preso em casa de família por ter tentado suicidar-se! Quanto a mim, privada do que me pertence, fora da casa e das terras onde trabalhei durante 32 anos, criando honestamente meus filhos, que hoje, felizmente, se acham todos casados, pois que há 20 anos fiquei viúva com 6 filhos menores, também não enlouqueci porque Deus não foi servido!

Eis, pois, o quadro de misérias a que fomos reduzidos pela desumanidade do sr. Alexander J. Regis, que não sabemos o que mais pretende de suas infelizes vítimas.

Concluindo, perguntamos: quais os documentos apresentados pelo sr. Regis para alegar o seu pretenso direito? No entretanto, os nossos que se acham juntos aos autos em poder do Superior Tribunal de Justiça, se originam nas três ações do contrato da sociedade organizada na Bélgica no ano de 1844, pertencentes a meu pai, João Baptista Villain, falecido há 11 anos, natural da Bélgica e bem assim minha mãe, que para aqui vieram no referido ano com Carlos Vandeleid [Van Lede], que já tinha vindo antes comprar terras para a referida sociedade estabelecer uma colônia.

Essas terras foram compradas uma légua quadrada ao capitão José Henrique Flores, no lugar Ilhota, entre Itajahy e Blumenau, e outras no Belchior e Sarceiro, no mesmo lugar, não sabemos a quem.

A sociedade dissolveu-se antes do prazo que era de 10 anos, diverso possuidores de ações dessas terras retiraram se para fora do lugar, meu pai porém nunca abandonou sua posse sem que deixasse uma pessoa em seu lugar, residindo ai um filho há pouco falecido em Florianópolis de nome Guilherme Baptista Villain, 14 anos, e eu que já me achava nas mesmas terras há 32 anos até 31 de maio do corrente ano, data em que dali fomos obrigados a retirar-nos.

Ora, durante 60 anos de domínio nosso nestas terras, nunca nos foi contestada essa posse, somente há 7 anos é que o sr. Regis arrogou-se esse direito sem documento algum, a que nos conste, como estamos informados; por isso naquela ocasião não conseguiu o seu intento, e somente agora! Felizmente ainda confiamos na justiça do nosso Estado e muito breve tentaremos uma ação contra semelhante esbulho, visto já ter-nos preparado com tempo, pois estamos convencidas de que o nosso prejuízo neste feito proveio de demoras e delongas da nossa defesa.

Itajahy, 17 de outubro de 1904

Maria Villain

O processo judicial da ação de despejo em que os requerentes são Alexandre Justine Regis e sua mulher e os requeridos Maria Villain, Leandro Maes, Antônio Miranda, Luiz Fernandes e outros está guardado no Arquivo Central do Tribunal de Justiça de Florianópolis (SC). Infelizmente não há autorização expressa para exposição do processo e de suas informações. As ações mencionadas na carta da Maria Villain não são da Companhia Belga-Brasileira de Colonização. O seu pai era acionista da Sociedade Agricultura, fundada em Bruges, no dia 3 de agosto de 1844. Os 10 acionistas são moradores da cidade belga Mechelen (Malines): são Affonso Thomaz, Gustavo Lebon, Augusto Lebon, João Baptista Vilain, Edouardo Milcamps, Jacques José Aerts, Martius Verlinden, João José Vander Vrecken, João Baptista Buelens, Francisco José Meeuwens. Todos, menos Affonso Thomaz, viajaram com o barco Jean Van Eyck em 1844 para Ilhota (SC). 

Descendentes: 

A filha Josephine Anne-Maria casou-se com WEBER Mathias no mesmo dia 13/06/1863 em Brusque-SC que o filho Guillaime-Auguste casou-se com MAES Maria Ludovica, filha de Eugene Maes .

No Brasil nasceram outros filhos do casal. Veja https://www.familysearch.org/tree/person/timeline/LHN6-BXD ou https://www.familysearch.org/tree/person/timeline/LHN6-BRT. Duvidamos se todas as informações estão corretas devido a idade da sua esposa Anne Louise com as datas de nascimento dos ultimos filhos.

A filha Catharina (1847 - Itajaí) casou-se com Petrus Franciscus Brackeveld, filho de Pierre Brackeveld.

Estatua NS familia VilainA revista "O Colegial: Orgão dos alunos do Colégio Catarinense" de Maio de 1948, relata na p. 4, uma excursão das Congregações marianas do internato às Águas minerais de Santa Catarina. O condutor era o Sr. Jacó [Jacob Baptista] Villain, o operoso proprietário da águas de Santa Catarina, ao pé do monte Cambirela... Na vasta planicie avulta uma bela gruta, ao sopê do Cambirela onde encontra-se uma estátua de Nossa Senhora, ptrimônio sagrado da família Vilain, trazido faz 102 anos de Tours, da França. O autor do artigo, P.A.B.B. provavelmente confundiu Tours com Dour, a cidade belga onde o avô do Jacó, o Jean Baptista, morrava antes de migrar para a Bélgica. No local, no município de Palhoça, encontra-se hoje a igreja e gruta Nossa Senhora da Fátima. Uma visita no local deverá verificar se a estátua atual é a original trazida da Bélgica.

Vilain Jacob FilhoO site Água Santa Catarina informa que no ano de 1927, o Jacob Vilain Filho, constituiu no Estado de Santa Catarina, a primeira envasadora de Água Mineral do sul do país. Com a expansão da marca e a maciça aprovação do público consumidor, a empresa comprou sua primeira máquina de engarrafar, em 1941. Iniciando assim o que seria uma das maiores empresas de água mineral de Santa Catarina.  O mercado não parou de crescer e a empresa continuou o processo de modernização com a aquisição em 1970 de uma engarrafadora americana da “Crown Cork”. No final da década, a empresa passou a diversificar os tipos de embalagens, ampliando a sua linha de produtos. E confirma a informação da excursão: "Em uma área de 200 hectares, ao parque do morro do Cambirela, junto ao Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, no município de Palhoça se encontra a fonte da Água Mineral Santa Catarina, no mesmo lugar que o empresário Jacob Vilain Filho começou esta grande história."

O Jacob foi honorado com a Rua Jacob Villain Filho, Guarda do Cubatão - Palhoça (SC).

 

Fonte dos nomes e sobrenomes

Encontramos grafias diferentes do nome e sobrenome dos emigrantes. Para os registros individuais das famílias neste site, usamos como principal entrada, as seguintes fontes para os imigrantes que chegaram com o barco:

  • "Jan Van Eyck" em 1844: o documento "État nominatif des colons embarqués à Bruges, à bord du Brick Belge Jean Van Eijck, en destination pour la Province de Ste Catherine du Brésil" guardado no Arquivo Municipal da cidade de Bruges, no departamento Arquivo Moderno - VIIa Sûreté Publique, 1844 
  • "Adèle" em 1846: o documento "Liste des personnes à qui il a été délivré des passeports gratuitement, en exécution de la Circulaire de Mr. l'Administrateur de la Sûreté publique en dâte du 2 Mai 1846, Cabinet, N° 45225 - Ville d'Anvers" guardado no Arquivo Nacional em Bruxelas, no setor 269 Émigration au Brésil. 1843-1888. Ministère de la Justice. Sûreté publique (ou Sûreté de l'Etat). Police des Etrangers, 1840-1994

Bibliografia

livros

  • Charles Van Lede e a colonização belga em S. Catarina / Carlos Ficker. - Blumenau, 1972.
  • Colonização Flamenga em Santa Catarina - Ilhota / Paulo Rogério Maes. - 2005.
  • Movidos pela esperança: A história centenária de Ilhota / Viviane dos Santos e Elaine Cristina de Souza. - S&T Editores, 2006.
  • La colonie belga au sein de la Sainte-Catherine du Brésil Impérial : Diplomatie, commerce et contrabande (1841 - 1847) / Natalia da Silva Pereira. - Dissertação ULB - Master en Histoire Contemporaine, 2013-2014

artigos

  • Sainte-Catherine du Brésil, Etablissement belge / Ch. Maroy no Bulletin d'études et d'informations de l'Ecole supérieure de commerce St-Ignace. Anvers, avril 1932, 31 p.
  • 3.3. Colônia belga p. 110-113 em A colonização de Santa Catarina / Walter Fernando Piazza. - Porto Alegre: Editora Pallotti, 1982.
  • Ilhota: Tempos e contratempos de uma colônia belga / Maria do Carmo Ramos Krieger Goulart p. 153-156 na revista Blumenau em cadernos 1982 – 5  (maio 1982) 
  • VII. Santa Catarina do Brasil (1842 - 1875) p. 119-137 em Dos Açores ao Zaire: Todas as colônias belgas nos seis continentes. O surgimento, a História, a comunicação / Patrick Maselis. - Roeselare: Roularta Books, 2005.
  • CHAPTER 5 - SANTA CATARINA p. 138 – 155 Early Belgian colonial efforts: The long and fateful shadow of & Leopold I / Robert Raymond Ansiaux. Presented to the Faculty of the Graduate School of The University of Texas at Arlington in Partial Fulfillment of the Requirements for the Degree of DOCTOR OF PHILOSOPHY. - THE UNIVERSITY OF TEXAS AT ARLINGTON, December 2006
  • Sainte-Cathérine du Brésil ou os belgas em Santa Catarina / Eddy Stols p. 22-26 em Brasil e Bélgica: Cinco séculos de conexões e interações. - São Paulo: Narrativa Um, 2014.
  • Ilhota, een Belgische kolonie aan de Itajahi-Grande/ Raymond Arren em Spaenhiers Jaarboek 2010.
  • Een Brugse kolonie in Brazilië: ‘Adieu, Vlaenderen en Braband. Wy gaen nae ’t luy Lekkerland…’Bart Demuynck p. 151-162 em Brugs Ommeland: driemaandelijks tijdschrift, 55ste jaargang, nummer 3, september 2015.